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sábado, 27 de junho de 2009

Para almas geladas, o melhor é doar amor.
Profº Shuzo Yoshikura,com adaptações de Patrícia Furtunato


...Deitado na areia com o sol me envolvendo todo o corpo e ouvindo de olhos fechados os murmúrios das ondas, vêm-me á memória,como se fosse ontem, cenas de um dia do passado.
Era também um dia calmo,tranqüilo e de temperatura agradável como hoje. Naquele dia havia visitado a minha esposa,então noiva,na sua casa. Viemos á praia e,sentados na areia,conversamos cheios de esperanças sobre o sonhos de construirmos juntos uma nova vida. Ela falou sobre a aldeia,onde nascera e crescera. Um coisa que ela contou me impressionou me muito. Ela disse que as pessoas da aldeia jogavam no mar todos os cacos de vidro de garrafas, de vidraças,etc. “Mas que perigoso!” retruquei espantado. Mas,com um sorriso nos lábios,ela continuou: “Eles não jogam em qualquer lugar. Existe um lugar previamente demarcado pelos próprios aldeões, onde não há perigo algum.”.
As ondas do mar repetem incessantemente suas idas e vindas,como a respiração do próprio planeta. Desmanchando-se na praia,recolhem silenciosamente os cacos de vidro e com eles retornam para o alto mar. Depois de dias,meses e anos o mar generoso, que continua com o mesmo movimento,acaba arredondando os cacos,mesmo os mais pontiagudos,devolvendo-os a praia.
Ao ouvir essa explicação,peguei uma porção de areia com as mãos. No meio da areia branca,destacavam-se pedrinhas coloridas ou transparentes,de formas irregulares. Eram os antigos cacos de areia.
Observando fixamente as pedrinhas misturadas á areia branca que caía das minhas mãos, pensei com profunda emoção: “Quero formar homens que sejam não apenas corretos, mas também generosos. A grande natureza abriga em seu seio as substâncias fétidas,mas está purificando-as constantemente com sua força. A natureza não rejeita as substâncias fétidas,mas sim purifica-as e assimila-as. Aqueles que são magnânimos como a natureza,não conseguem vivificar o próximo ou fazer crescer as coisas ao seu redor,mesmo que sejam pessoas corretas.” Pois não é exatamente isso? O grande mar envolve qualquer caco de vidro nos seus braços,transformando-o numa pedrinha brilhante,arredondada,sem ângulos ? Que grandiosa capacidade de envolver! Haverá outra igual?
Tomado de profunda emoção,pensei na minha pequenez e feiúra interior ,e senti-me envergonhado. Estaria eu envolvendo com calor as almas geladas? Todos nós mantemos relacionamento com muitas pessoas. No dia-a-dia,estaria eu envolvendo a todos com grande tolerância,tratando-os com igualdade?
Existem pessoas com temperamento desagradável;existem pessoas insensatas que menosprezam os sentimentos alheios;pessoas anti-socias que se enclausuram no seu mundo;pessoas rudes e grosseiras menosprezadas por todos. O mundo é constituído dos mais variados tipos de pessoas.
Estaria eu sendo gentil com essas pessoas,procurando acolhê-las no meu coração? Pelo menos superficialmente,tenho agido assim,mas no meu íntimo? As vezes tenho julgados as pessoas com as minhas medidas. Outras vezes,sentido grande repulsa por algumas pessoas.(...)
Entristeceu-me este meu pobre estado emocional,muito longe da tolerância. Já nem escutava o que a minha noiva me dizia. Olhando fixamente as espumas brancas que se aproximavam dos nossos pés,procurando conter as lágrimas com esforço.
Prometi com firmeza,mas com muita firmeza mesmo:
_ Serei como o mar.
Serei alguém como o mar,que recebe de braços abertos os bons e os maus. Envolverei todas as pessoas,mesmo as “espinhosas” ou as “pontiagudas” que machucam os outros;receberei a todos com um grande e caloroso coração;como o mar,eliminarei suas partes angulosas oferencendo-lhes alegria e esperança...
Muitos anos se passaram. A lição do mar continua viva até hoje. Não devemos nos deixar impressionar pelo aspecto exterior. Depois de muitas experiências,esta convicção se tornou mais solida, e levo uma vida feliz ao meu ver.
Eis aqui o meu “eu” totalmente diverso do passado. Na mesma praia de outrora,lembro-me saudosamente dos dias vividos até hoje e sinto vontade de bradar ao mar: “Obrigado!Cumpri a minha promessa feita naquela ocasião!”
O vento começa a soprar. As flâmulas dos barcos fazem ruído no ar ,e as gaivotas brancas grasnam,voando em círculo sobre a superfície da água. Talvez tenham descoberto um cardume.

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