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segunda-feira, 14 de julho de 2008




Quando se tem no peito uma dor, o melhor a fazer é confrontá-la, para compreender ou mandar embora a pobrezinha. Mas houve um dia em que eu não conseguia nem ao menos encontrar minha aflição, sentia - a apenas reinando sobre mim, ali, bem dentro de mim. Deixei-a quieta, até não suportá- la mais. Quando a alma dói, a gente chora, mas naquele dia, meus olhos ardiam de tanto estarem secos pela falta de lágrimas. Escutei Norah Jones numa tentativa de encarar a dor. Ouvir música é uma boa terapia, pois traz a melancolia. Queria ficar melancólica para chorar, pois quem chora se derrama inteiro, aquele que chora deixa os conflitos escorrerem. A Norah não fazia efeito, e eu, estava ainda mais seca. Foi então, que o vi. Meu caderno! Meu caderno de escrever desabafos ali perto de mim. Será que ele seria a solução? Encarando uma de suas folhas, percebi que não podia desabafar, pois não sabia definir o que me acontecia.Não sabia. O que restava, então, era rabiscar. Desenhei uma florzinha, um sol brilhante e depois, sem saber também o que desenhar, escrevi meu nome e logo embaixo dele : " eu mesma". Essas duas palavras escritas deram-me uma idéia, aparentemente tosca e vacilona. Mas como ansiava me livrar daquela dor bem incoveniente, abri outra página e começei uma carta:"Querida eu mesma, você não consegue se entender, não é?!".Continuei a composição da carta e, em instantes, toda a obscuridade tornou-se nitidez e a tinta da caneta no papel estava borrada, a minha dor se definiu naquela página, ela mostrou a face para mim, eu me senti a psicóloga e a paciente de uma vez só, me senti como quem fere só para curar. Me esquadrinhei, me analisei e chorei, chorei e descobri. Descobri que a dor era a de não me conhecer.